
"A Ditadura de Salazar" por Rosa
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 13º
1 - Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
2 - Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
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A Ditadura de Salazar
Luís era um magnífico pedreiro. Trabalhava de manhã à noite, sem parar, mas o que ganhava mal dava para sustentara família.
Então surgiu-lhe uma ideia: ir trabalhar para outro país. Mas como?...
Estava-se numa ditadura, ninguém tinha permissão para sair do país.
Ao falar com alguns colegas de trabalho, resolveram, ele e mais quatro, sair do país. Arranjaram algum dinheiro e conseguiram ir até à fronteira.
Contrabandistas desejosos de fazer fortuna levaram-nos nos seus barcos, mas algo correu mal. A meio da travessia do rio, fizeram-nos saltar para a água. A guarda espanhola estava no outro lado! Alguém os havia denunciado! Alguns deles não sabiam nadar. Luís relembra:
«Aquilo foi um pavor. Ficámos por conta própria. Apenas nos deram uma corda para que nos atássemos uns aos outros. Os que sabiam nadar ajudavam os restantes. Nadámos e estivemos dentro de água algumas horas. Estávamos cheios de frio. Alguns já davam sinais de hipotermia.
Ao chegarmos à margem tivemos que nos esconder. Depois começámos a andar a pé. Já tínhamos percorrido alguns quilómetros quando nos chegou ajuda. Quando parámos, aí estávamos, no país que nos iria acolher - França.
Vivemos seis meses na clandestinidade. Neste tempo fiz um pouquinho de tudo – fui pedreiro, jardineiro, etc. Depois acabei por arranjar um patrão que me ajudou a tratar dos papéis para ficar legal no país.
Os primeiros anos foram muito difíceis. Até conseguir dinheiro para poder alugar uma casa tive que dormir em bidons.
O pior era de Inverno. Tínhamos que fazer fogueiras para nos aquecer.
Outra dificuldade era a língua, mas mal ou bem lá íamos resolvendo os problemas que surgiam.»
Luís, num tom bem humorado, diz ainda: «Quando íamos ao supermercado comprávamos comida enlatada, e quando nos apercebíamos, trazíamos comida de cão!». A rir, acrescenta: «Comi e até era bom. Estou vivo, não morri!»
Esteve emigrado durante 20 anos. Levou para França sua mulher e seus filhos. Em Portugal, com o dinheiro que lá ganhou, fez uma bela casa e conseguiu ter uma conta bancária satisfatória.
Quando regressou a Portugal, já encontrou um país livre! Qualquer um poderia viver onde quisesse, sair e entrar livremente do país!...
Autoria: Rosa Miguel